Pseudomonarchia Daemonum
A Pseudomonarchia Daemonum (em latim, “A Falsa Monarquia dos Demônios”) é um dos grimórios demonológicos mais famosos e influentes da tradição ocultista europeia. Compilado por Johann Weyer (Ioannes Wierus), médico e discípulo de Heinrich Cornelius Agrippa, esse grimório foi originalmente publicado como apêndice ao tratado De Praestigiis Daemonum (“Sobre as Ilusões dos Demônios”) em 1563. O paradoxo da obra está no fato de que Weyer era um opositor das perseguições às bruxas — ele acreditava que muitas pessoas acusadas de feitiçaria eram, na verdade, vítimas de distúrbios mentais. Porém, ao mesmo tempo, compilou um dos catálogos mais sistemáticos de demônios já produzidos.
Assim, a Pseudomonarchia Daemonum deve ser compreendida como um documento ambíguo: parte crítica, parte manual ocultista, ela lista os nomes, poderes, hierarquias e características de 69 demônios que teriam servido ao Rei Salomão — seguindo a tradição da magia salomônica medieval, mas com uma perspectiva racionalizante.
Origem e Contexto Histórico
• Autor: Johann Weyer (1515–1588), médico e ocultista protestante
• Data da publicação: 1563, como apêndice ao De Praestigiis Daemonum
• Idioma original: Latim
• Objetivo declarado: Denunciar o exagero das acusações de bruxaria e expor os “truques” atribuídos aos demônios
• Inspiração: Ars Goetia (tradição salomônica oral ou perdida) e textos ocultistas como o Liber Officiorum Spirituum
Weyer não acreditava que as bruxas tinham pactos reais com demônios, mas aceitava que tais entidades existiam como forças espirituais inferiores, manipuladoras e mentirosas — daí o termo pseudomonarchia.
Estrutura e Conteúdo
O grimório apresenta 69 demônios principais, organizados de forma hierárquica com seus títulos infernais (reis, príncipes, duques, marqueses, etc.), descrições detalhadas, selos, funções mágicas e número de legiões sob seu comando.
Cada entrada geralmente inclui:
• Nome do demônio
• Título nobiliárquico no inferno
• Número de legiões que comanda
• Poderes específicos (ex: tornar invisível, ensinar artes liberais, revelar segredos, encontrar tesouros, causar amor ou discórdia, etc.)
• Aparência ou forma como se manifesta
• Obediência à autoridade mágica (geralmente salomônica)
Exemplos de Demônios Notáveis na Pseudomonarchia
1. Bael
• Rei
• Aparece com três cabeças: de gato, homem e sapo
• Torna o magista invisível
• Comanda 66 legiões
2. Paimon
• Rei muito obediente a Lúcifer
• Aparece montado num camelo, com música e barulho
• Ensina ciências, revela segredos e confere dignidade
• Comanda 200 legiões
3. Astaroth
• Duque
• Aparece como um homem nu com asas de dragão, montado num dragão
• Ensina ciências ocultas e responde sobre o passado e o futuro
• Comanda 40 legiões
4. Bune
• Duque
• Aparece com três cabeças: cão, grifo e homem
• Muda lugares de mortos, confere eloquência e sabedoria, atrai riqueza
• Comanda 30 legiões
5. Asmodeus
• Rei
• Famoso por causar luxúria e desejo
• Muito poderoso e difícil de controlar
• Comanda 72 legiões
Filosofia Implícita
Weyer, apesar de listar detalhadamente os demônios, não incentivava sua evocação, e tratava suas capacidades como projeções da superstição popular e da imaginação coletiva. Sua intenção era demonstrar que muitas das coisas atribuídas às “bruxas” — como voar, enfeitiçar, provocar tempestades — vinham, na verdade, da tradição demonológica, não de atos reais. Ele dizia que esses espíritos se divertiam enganando os homens, fingindo ter poderes imensos.
Contudo, a clareza, a precisão e o valor simbólico da sua lista fizeram com que o grimório fosse amplamente copiado, adaptado e reutilizado por ocultistas que o viam como uma referência legítima para práticas de magia cerimonial.
Influência Posterior
A Pseudomonarchia Daemonum serviu como base direta para a criação do Ars Goetia, a primeira parte do Lemegeton (ou Clavícula de Salomão Menor), compilado por volta do século XVII. Muitas das descrições dos demônios goéticos vêm quase diretamente do texto de Weyer, mas com nomes levemente modificados e adicionados selos mágicos que Weyer não forneceu.
O grimório também influenciou:
• Magia renascentista e barroca na Alemanha e Inglaterra
• Ocultismo vitoriano, especialmente por grupos como a Golden Dawn
• A tradição moderna de magia goética e demonologia cerimonial
Comparações com Outros Grimórios
Grimório Relação com a Pseudomonarchia Daemonum
Lemegeton (Ars Goetia) Derivado direto, com 72 demônios (ao invés de 69) e selos acrescentados
Grimorium Verum Também trabalha com demônios, mas mais pragmático e pactuário
Livre des Esperitz Lista francesa similar de demônios, também do século XV–XVI
Key of Solomon Mais teúrgico e ritualístico; a Pseudomonarchia é mais catalogal
Liber Officiorum Spirituum Precursor textual possível do catálogo de Weyer
Conclusão
A Pseudomonarchia Daemonum é tanto um tratado racionalizante da demonologia quanto um grimório de referência para ocultistas cerimoniais, fornecendo descrições ricas, hierarquias detalhadas e funções mágicas de demônios que viriam a figurar em toda a tradição ocidental da magia.
Ideal para:
• Estudiosos de demonologia e magia salomônica
• Ocultistas que trabalham com goetia
• Pesquisadores da Inquisição, bruxaria e heresia
• Praticantes interessados em hierarquias espirituais infernais
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